Ainda criança se conheceram, brincavam felizes nas férias de julho e dezembro!
Anos depois se reencontraram e em pouco mais de um mês estavam casados.
Para ela uma grande conquista de liberdade, para ele um tanto faz como tanto fez!
No decorrer dos anos o grande grito de liberdade converteu-se numa grande e solitária escravidão! Chegaram os filhos, e o tempo para as velhas noitadas com os amigos se foi.
Ela relaxou os cabelos, as unhas, o corpo e a alma!
Seu amor pela boa música e leitura ficaram num canto arquivado!
Ele então a deixava em casa e saia para sua priorizada boemia, todas as mulheres queria, e vestido na sua farda de general da banda já nem se importava se a mulher se importaria!
Certa vez enquanto bebia e ouvia música num bar de uma esquina qualquer, alguém pediu para colocar uma fita cassete de Paulo Diniz, nela por ironia do destino começou a tocar Pasárgada!.
O homem que sempre foi alérgico a livros se encantou a seu modo pela tal Pasárgada!
A mulher que tinha Manuel Bandeira como um amor antigo que começou nos tempos de escola e perdurou nas lembranças dos bons tempos, sentiu até uma pálida alegria, quem sabe agora ele melhorara o gosto musical!
A única coisa que o cretino conseguiu entender nas entrelinhas era o que usava para açoitar a mulher cada vez que enchia a cara!
Por anos e anos repetia apontando para a idiota:
” Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei.”
Humilhada ela se sentia um lixo, pensava: Oh Manuel, que culpa tu tens se o falso entendimento de teus versos viraram açoites para mim!
Um dia ela se olhou no espelho e conseguiu enxergar um resto de juventude e beleza, lembrou do quanto era estrela de primeira grandeza antes de casar, e desejou muito o jogo virar!
Passado alguns dias, o general da banda com sua farda e botões começou a entoar Pasárgada no seu infame entendimento. Então ela pegou suas malas que aos poucos foi arrumando e com um olhar de desprezo jamais antes usado, encarou-o com todas as forças e falou:
-Nesta triste Pasárgada você já vive seu infeliz, nem perderei meu tempo lhe explicando o que Bandeira diz, fique aí com suas quengas nas suas camas fedidas, que eu estou indo para Paris!
Por Márcia Magalhães