José Osmar Monte Rocha
(Academia Aguaslindense de Letras)
Pai Celestial, eu pequei contra ti e contra a lei dos homens; segundo os costumes da humanidade; à luz da sociologia, da filosofia, da psicologia, da psiquiatria, da teologia e das religiões criadas pelos homens; deixei de seguir os dogmas instituídos pela igreja e ignorei o direito canônico. Sou pecador. Perdi o cartão de embarque para o Céu e fiquei suscetível de ganhar a passagem para o Inferno. Eu me confesso a ti, Pai Onipotente, Onipresente, Onisciente e Misericordioso! Perdoa-me!
Vi durante todos esses anos da minha vida, a regência do signo do medo, e as severas pressões das religiões que agem de forma ameaçadora, quando o adepto deixa de cumprir as recomendações do pregador, ou do doutrinador dessas correntes religiosas. Algumas dessas congregações falam mais o nome do Diabo do que o teu Santo nome; ameaçam os fiéis com o terror psicológico religioso e colocam o nome do espírito maligno em primeiro lugar; usam a maior parte do tempo para empoderar e exortar o inimigo, quando deveriam te louvar, orar, agradecer e exultar o teu nome Bendito. E ainda, diante do altar, instigam os fiéis para fazerem ofertas de recursos financeiros em grandes quantias, com promessas de bênçãos e milagres, como se pudessem vender, transformar e entregar essas promessas em realizações.
Pai Onipresente, tudo isso me enche de dúvida, e eu fico atônito sem compreender; eu que sou ignorante, te peço: abre os meus olhos para que eu possa enxergar a tua luz; limpa os meus ouvidos para que eu possa escutar a tua palavra santa; imuniza a minha alma para que eu não seja induzido a desvio de minha fé; e ilumina o meu espírito para que eu receba os dons de discernimento e sabedoria; que ao ver e ouvir, saiba distinguir o que é verdadeiro e divino, do que é enganador e diabólico.
Pai, essas ocorrências me fazem pensar no que escreveu o apóstolo Paulo, em mensagem aos coríntios, e eu não consigo confirmar: “Esses tais são falsos apóstolos, operários desonestos, que se disfarçam em apóstolos de Cristo, o que não é de se espantar. Pois, se o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz” (2 Coríntios 11:13-14). Procedem assim, como se fosse uma guerra interminável do bem e do mal travada diariamente, e sem vencedor. Esquecem que o teu filho amado Jesus Cristo já venceu o mal, deu o seu corpo e o seu sangue e a sua vida para salvar toda a humanidade (Mat. 26: 26-28), e ressuscitou dos mortos com honra e glória para o teu reino. O que me parece é que essas igrejas esqueceram as palavras de Jesus, quando disse: “Aquele que crer e for batizado será salvo” (Marcos 16:16). E ainda, deixam de praticar a última determinação de Jesus, antes de seguir para a Casa do Pai: “Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo” (João 15:12). Com estas palavras Jesus garantiu que o amor é o mandamento único e suficiente para cumprir a vontade de Deus.
Mas recorro aos relatos da história bíblica e vejo que o pecado existe desde a criação do mundo: Adão e Eva pecaram no Jardim do Éden, por desobediência; deixaram de cumprir os teus preceitos e comeram do fruto proibido; foram vítimas da tentação e da mentira; entretanto, tu não os condenaste por toda a vida; apenas lhes prescreveste que teriam que sobreviver com o trabalho e o suor do rosto; Eva passou a sentir a dor do parto … e cumpriram o teu decreto; todavia, tu os perdoaste, pela tua misericórdia (Gen. 3:6, 16-19).
Caim matou o irmão Abel, praticou o crime de homicídio e tu não o condenaste para a vida eterna; ele cumpriu a pena que lhe foi imposta (Gen. 4:8). Judas Iscariotes traiu o teu filho Jesus, com um ósculo e o entregou e o trocou por 30 dinheiros, no entanto, Jesus o perdoou (Mateus 26:15, 48). Os algozes que maltrataram o Cristo, escarniaram e o crucificaram no Monte Calvário entre dois malfeitores (possivelmente ladrões), receberam o perdão porque a bondade do teu filho ecoou: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem!” E um dos crucificados ao lado de Jesus pediu: “Mestre, quando estiveres no teu reino lembra-te de mim!” E a complacência de Cristo respondeu: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:34, 42-43).
É importante lembrar outros episódios narrados nos teus livros sagrados: Davi, rei de Israel, desejou a mulher do próximo, Bate-Seba, esposa de Urias, o guerreiro heteu a serviço do rei hebreu, e a possuiu. Davi teve várias mulheres (esposas e concubinas) e diversos filhos; pela lei cometeu adultério; e Bate-Seba concebeu Salomão, sucessor de Davi, a quem tu deste sabedoria e riqueza. Salomão também pecou, contrariou as tuas determinações quando se deixou levar pela fé escura das mulheres ímpias estrangeiras; eram 700 esposas, princesas e 300 concubinas estrangeiras (1 Reis 11:13). Essa situação não foi considerada adultério nem poligamia. E tu o perdoaste pelos desvios dos teus mandamentos. Uma mulher adúltera foi levada à praça pública para ser apedrejada, e Jesus mandou que quem não tivesse pecado atirasse a primeira pedra; e todos desistiram, por serem pecadores; e Jesus a perdoou (João 8:3-11).
E muitos outros fatos citados nos santos evangelhos: Pedro (Cefas) mentiu e negou Jesus três vezes antes que o galo cantasse; Jesus previu isso, e depois perdoou a fraqueza de Pedro (Mateus 26:34, 70-75). Tomé (Dídimo) duvidou que Jesus tivesse ressuscitado e aparecido aos outros apóstolos; disse que só acreditaria se pudesse colocar o seu dedo nas chagas de Cristo; negou a sua fé, mas Jesus apareceu noutra ocasião e disse a Tomé: “Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos” (João 20:24-29). Abraão copulou com a escrava egípcia Agar, com o consentimento de sua mulher Sara e a mesma concebeu o filho chamado Ismael (Gênesis 16:1-16); e Abraão, o primeiro patriarca, com quem Deus fez aliança, foi abençoado por Deus, não se caracterizando adultério. Jacó, o terceiro patriarca casou com as irmãs Lia e Raquel, filhas de Labão, e ainda viveu maritalmente com as duas escravas de suas mulheres: Zelfa (escrava de Lia) e Bala (escrava de Raquel); sem que isso fosse considerado bigamia ou adultério. As quatro mulheres de Jacó lhe deram 12 filhos, o que resultou nas 12 tribos de Israel (Gênesis 29:23-35; 30:1-26; 49:1-28).
São tantos os exemplos registrados nos livros sagrados, que demonstram a piedade divina para com os seus filhos: Moisés, servo de Deus, antes de ser escolhido para livrar o povo hebreu da escravidão do Egito, ao ver um egípcio ferindo um hebreu dentre os seus irmãos, matou o egípcio e ocultou-o na areia (Êxodo 2:11-15). Pelo homicídio praticado não há registro de condenação nem expiação; isso leva a crer que tu o perdoaste; pela tua complacência com Moisés. Posteriormente Moisés recebeu o chamado de Deus e conduziu esse povo durante quarenta anos; recebeu de Deus no Monte Sinai a Tábua da Lei contendo os 10 Mandamentos; todavia, duvidou da palavra do Altíssimo e não lhe foi permitido entrar na terra prometida; avistou de longe a terra prometida, mas morreu antes da entrada do povo de Deus em Israel; contudo Deus o perdoou porque era um servo de Deus e falava com Javé face a face (Números 20:10-12).
Pai Onisciente, a minha esperança está pautada nos teus registros dos livros bíblicos: quando Jesus foi tentado no monte pelo demônio, e após combater e rejeitar a proposta indecorosa do anjo decaído, que desejava que Jesus o adorasse e se render-se a ele; essencialmente quando ele disse: “Vai-te, Satanás; não tentarás o Senhor teu Deus” (João 4: 3-10). Naquele momento Jesus derrotou definitivamente o demônio. Noutra ocasião o Mestre Jesus deu uma garantia: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mateus 18:20). “Tudo que pedirdes ao meu Pai em meu nome sereis atendidos” (João 14:13). “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis”; batei, e abrir-se-vos-á (Lucas 11:9). Pai Onipotente, o pecado é uma fraqueza ou transgressão que tem atormentado a humanidade desde o primeiro momento em que Adão e Eva pecaram contra ti; suponho que não pecar seria um ser angelical atingido pela purificação. Até o Apóstolo Paulo (Saulo), com todos os ensinamentos divinos, preparado, ensinado pelo poder divino, expressou dizendo ser o pior dos pecadores (1 Timóteo 1:15; Romanos 5:8, 6:12, 6:23; 3:9; 1 João 1:9; Mateus 18:21-22).
Imagino eu, o que devo dizer de mim; com certeza o mais fragilizado dentre os pecadores.
Pai Celestial, eu me confesso a ti, sou pecador! Tem piedade de mim que sou muito fraco; e ainda faltam em mim (ou são insuficientes) a fé, a esperança, a caridade e o amor; começo entender as palavras de Jesus quando disse aos Apóstolos: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei”. (João 13:34-35). Entendi que Jesus não revogou os 10 mandamentos, mas deu nova interpretação, que existindo amor não haverá transgressão. E vejo nas palavras do Apóstolo Paulo quando disse: a fé sem caridade é vazia; e a caridade é o amor em exercício (1Coríntios 13:1-13; 14:1; 15:9-10; 16:14).
Pai Misericordioso, tem misericórdia de mim! Tu tiveste a complacência com tantos outros filhos pecadores, e os perdoaste; perdoa-me se quiseres! Converte-me para a tua religião: una, santa e perfeita – a religião do amor! Aquela em que todos nós somos teus filhos e irmãos; a fé conduz ao teu caminho, a esperança fortalece a caminhada, a caridade impera e o amor consagra o cumprimento dos teus mandamentos, conforme o teu filho amado Jesus Cristo ensinou. Perdão Senhor! Eu sou pecador, mas quero vencer o pecado.