Por: Maurício Gonçalves Guimarães (Psicólogo, psicanalista, sexólogo e historiador)
Mitologia foi o caminho utilizado por Sigmund Freud para construir a psicanálise. O contato com o sofrimento psíquico o levou a identificar o complexo de Édipo como sendo a base teórica da estruturação psicológica dos indivíduos. Em relação a técnica da escuta e da análise do dito e do não dito, há também uma possível relação entre a prática clínica e o contato com o Mito.
Na antiguidade clássica sempre que havia uma angústia pessoal ou social consultava-se o ORÁCULO. Lá uma sacerdotisa entrava em transe e falava mensagens desconexas que haviam sido supostamente ditadas pelos Deuses. O indivíduo buscava juntar aquelas palavras aleatórias e compreender o que não tinha sentido claro. Achava sua resposta em si mesmo a partir de suas interpretações.
Assim atua a CLÍNICA PSICANALÍTICA, o sujeito entenderá as mensagens do seu inconsciente a partir da escuta do apresentado e não apresentado e das análises do profissional. A SACERDOTISA e o PSICANALISTA funcionam como espelhos do EU indecifrável do sujeito. Se no Oráculo as informações seriam fornecidas pelas divindades, na clínica psicanalítica o profissional tentará acessar o escondido e negado (o inconsciente) utilizando caminhos oferecidos pelo paciente através dos sintomas, sonhos, chistes e atos falhos. Sempre provocando indagações, os dois contribuem para que cada um encontre a verdade sobre si.
No Édipo o sujeito se constitui na interdição do incesto e do parricídio como condição fundamental para o estabelecimento da neurose e, consequentemente, da possibilidade da convivência social. Casar com a mãe e matar o pai não são suportáveis para a civilização. Cada “descoberta” abre novas questões e novas portas para novas possibilidades, cada descoberta traz alívios e novos sofrimentos. Cada “conhece-te a ti mesmo” ou cada insight ajudam a conviver melhor com as dores e angústias inerente a condição humana.