5 de julho de 2023, 187 anos

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CAXIAS, MARANHÃO — O QUE O BRASIL DEVE A ESSA CIDADE

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Registre-se logo que os 187 anos que a maranhense Caxias comemora hoje são de ELEVAÇÃO À CATEGORIA DE CIDADE E SEDE DE MUNICÍPIO.

O INÍCIO DA HISTÓRIA de Caxias remonta a 1612, quando franceses estabeleceram-se às margens do rio Itapecuru, impressionados com a fertilidade das terras do futuro município. Eles conviviam pacificamente com os índios timbiras e gamelas, até a chegada dos portugueses, que, em 1615, expulsaram os franceses e escravizaram os índios.

Em 1735 deu-se a CRIAÇÃO DO DISTRITO Caxias das Aldeias Altas.

Em 31 de outubro de 1811 o distrito é elevado à CATEGORIA DE VILA.

E no dia de hoje, 5 de julho, em 1836, passa ao “STATUS” DE CIDADE E SEDE DE MUNICÍPIO.

Em 1858, Dom Manuel Joaquim da Silveira, na Igreja de São Benedito, denominou Caxias de “PRINCESA DO SERTÃO MARANHENSE”, epíteto pelo qual a cidade é conhecida até hoje. Dom Manuel foi bispo de São Luís de 1851 a 1861, sucedendo a Dom Carlos de São José e Sousa. Foi sucedido por Dom Luís da Conceição Saraiva em 1861, quando Dom Manuel foi para Salvador, como arcebispo, no lugar de uma das maiores inteligências da Igreja Católica, Dom Romualdo Antônio de Seixas. Dom Manuel permaneceu como arcebispo de Salvador de 1861 a 1874, falecendo em Salvador no ano seguinte, 1875, em 23 de junho, aos 68 anos. Ele nasceu em 14 de abril de 1807, no Rio de Janeiro (RJ), foi ordenado presbítero em 02 de maio de 1830, bispo em 06 de junho de 1851 e arcebispo em 18 de março de 1861. Recebeu o título de Conde de São Salvador e de primaz do Brasil (Na Igreja católica, posição acima dos bispos e arcebispos).

Em 1911, o nome do município passa a ser apenas CAXIAS.

A data de 1º de agosto — a única comemorada oficialmente no município e em alguns casos erroneamente creditada como de “aniversário” e, até, de “existência” de Caxias — diz respeito ao dia em que tropas independentes brasileiras entraram em Caxias, em 1823, fazendo os portuguesas deporem as armas e levando o município a RECONHECER A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, ocorrida no ano anterior, em 7 de setembro de 1822 — ato que os lusitanos residentes em Caxias teimavam em não aceitar e lutavam para que a “Princesa do Sertão” se tornasse uma espécie de enclave, de território português dentro do Brasil independente.

A data de 1º de agosto de 1823 torna Caxias uma das quatro últimas cidades e/ou províncias brasileiras a reconhecer oficialmente a Independência do Brasil (1º de agosto): na província da Bahia o reconhecimento deu-se em 2 de julho de 1823. Em seguida, 26 dias depois da Bahia e quatro dias antes de Caxias, a capital maranhense, São Luís, fez sua adesão à Independência, em 28 de julho de 1823. Por último, a província do Pará, em 15 de agosto de 1823. Nesses quatro lugares concentrava-se a maior parte das forças militares portuguesas.


Uma cidade há no nosso país que todo brasileiro dela sabe — embora, muitas das vezes, sem saber dela.

Trata-se de Caxias, no Maranhão, município com 5.201 quilômetros quadrados (antes, 5.196 km2) e 156.970 habitantes (antes, 164 mil habitantes), além de uma economia de R$ 1, 914 bilhão (2020) em Produto Interno Bruto – PIB, que é a soma de todos os bens e serviços produzidos e prestados pelos caxienses.

Mas não são os números que dão destaque a Caxias. Esses números apenas dizem que, em termos de POPULAÇÃO (ou Demografia), Caxias é o 5ª maior município do Estado e o de número 192 (já tinha sido a de nº 170) no país.

Por sua vez, em termos de ECONOMIA, dentre os 5.570 municípios brasileiros, o município caxiense está em 9º lugar no Maranhão (já tinha sido foi a 5ª) e o classifica entre os 600 maiores municípios brasileiros, ou exatamente o de número 539 (já esteve em 492), logo abaixo de Nova Santa Rita (RS) e acima de Campos de Júlio (MT).

Embora os dados demográficos e econômicos, por si sós, já lhe tenham garantido posições mais, digamos, “confortáveis” no “ranking” estadual e nacional, não são os números — repita-se — que conferem grandeza ao quadricentenário município (há registros de que o início da história caxiense deu-se com expedição que se assentou às margens do rio Itapecuru, em terras caxienses, logo na primeira metade do século 17).

A grandeza de Caxias vem da quantidade e, em especial, da qualidade dos filhos que nela nasceram. Eles, pelo vigor de seus talentos, pelo destemor com que iniciaram lutas e ideias, pelo entusiasmo com que realizações sonhos e ideais tornaram-se pioneiros e referências para toda a História do Brasil.

Na Literatura, no Direito, na Política, na Administração Pública, na Música, na Religião, na Pintura e Escultura e para outras diversas áreas da Cultura e das atividades humanas, filhos de Caxias legaram uma contribuição tão precursora e consistente que até hoje — e para sempre — o Brasil e os brasileiros lhe são devedores.

Na LITERATURA, mais que escritores de grandes obras, Caxias deu autores de escolas literárias, estudadas em cursos superiores (Letras, por exemplo) e em escolas de Ensino Médio . Com efeito, o Indianismo tem no escritor, advogado e etnólogo caxiense Gonçalves Dias seu maior símbolo. O advogado, jornalista e escritor Teófilo Dias é o introdutor do Parnasianismo no Brasil. O escultor e escritor Celso Antônio de Menezes introduziu o Modernismo nas Artes Plásticas brasileiras; era professor em universidade do Rio de Janeiro e entre seus admiradores declarados estavam Otto Lara Resende, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

No DIREITO, avulta João Mendes de Almeida, que é autor de vasta obra jurídica e linguística e é também autor da Lei do Ventre Livre, que fez nascerem livres os filhos de escravos (lei assinada pela Princesa Isabel, como se sabe). Também, Teixeira Mendes, que redigiu a lei, aprovada no Congresso Nacional, que fez a separação Igreja–Estado e estabeleceu a liberdade de culto, de fé religiosa e até de não tê-la. O caxiense Teixeira Mendes é mais conhecido por ser o autor da Bandeira Nacional brasileira; suas ideias em defesa dos indígenas, vigorosamente manifestadas e defendidas na Imprensa, resultaram na criação da Funai. Também de forma vigorosa, Teixeira Mendes foi autor e defendeu leis brasileiras pioneiras na defesa e estabelecimento de direitos da mulher trabalhadora, do jovem trabalhador e dos doentes mentais.

Na CIÊNCIA, SAÚDE e MEDICINA, registre-se Aderson Ferro, dentista formado em Paris, é considerado na sua classe a “Glória da Odontologia Brasileira”, autor da primeira obra científica na especialidade e pioneiro no Brasil no uso da anestesia odontológica. E um novo registro de pioneirismo e talento: a caxiense Liene de Jesus Teixeira foi uma das nove primeiras mulheres que concluiu no Brasil curso superior e foi a primeira mulher formada no curso de Engenharia Agronômica (Agronomia) da Universidade Federal de Viçosa (UFV), à época Universidade Rural do Estado de Minas Gerais. Em dissertação de mestrado de 2019, a acadêmica Monalisa Aparecida do Carmo confirma: “Foi somente em 1950 que uma mulher se diplomou na instituição. Liene de Jesus Teixeira tornou-se a primeira aluna a concluir o curso superior na instituição”. E reconhece: “Agrônoma, Liene rompeu com as barreiras da dominação que caracterizavam o ensino superior do estabelecimento de ensino como exclusivo aos homens”. Na página 42, Liene Teixeira consta de tabela que relaciona nove “mulheres pioneiras na conclusão de cursos superiores no Brasil”. Fez mestrado e doutorado. Pesquisou muito na Botânica brasileira. Liene faleceu em 1979 e teve seu sobrenome dado a um espécime da Botânica. A “Acta Botanica Brasilica”, revista científica trimestral publicada pela Sociedade Brasileira de Botânica, reconheceu a importância do trabalho de Liene, “maranhense de nascimento” (anotou a revista). Um autor de renome internacional também cita a caxiense Liene Teixeira. Trata-se de Umberto Quattrocchio (1947-2019), naturalista italiano, formado em Ciência Política e Medicina, que deixou de ser médico ginecologista em 1992 para dedicar-se inteiramente à Botânica. Era membro de respeitadas instituições internacionais da área, como a Botanical Society of America (Estados Unidos), a Linnean Society of London e a Royal Horticultural Society, também de Londres (Reino Unido). Traduzidos para diversos idiomas, os grandes livros de Quattrocchio são referência na área. A caxiense Liene de Jesus Teixeira Eiten é mencionada no “CRC World Dictionary of Grasses” (dicionário mundial de gramíneas), em três volumes, publicado em 2006 pela CRS Press/Taylor & Francis Group, que tem sedes em Londres e em Boca Raton (Flórida) e New York, nos Estados Unidos.

Também na CIÊNCIA e SAÚDE, união de competência técnica com sensibilidade humana, destaca-se o caxiense Francisco das Chagas Oliveira Luz, falecido em 2017, aos 84 anos. A vida do professor Francisco das Chagas, como era mais conhecido, foi de dedicação à Ciência — ou, melhor, de DEDICAÇÃO AO PRÓXIMO POR INTERMÉDIO DA CIÊNCIA. Era farmacêutico-bioquímico, tendo graduado-se na primeira turma do curso de Farmácia da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, no período de 1955 a 1958. Seus estudos e pesquisas na área de Medicina Tropical, sobretudo os voltados para o diagnóstico e tratamento de doenças como calazar e malária, contribuíram para o aperfeiçoamento e apressamento na identificação e no combate desses males, devolvendo saúde e bem-estar ao grande número de pessoas que eram — e as que ainda são — infectadas. Sua dedicação à Ciência e os resultados práticos daí advindos levaram ao reconhecimento do caxiense pela sociedade científica brasileira e internacional, pública e privada. Em 2009, foi homenageado durante o 45º Congresso da Sociedade de Medicina Tropical, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. No ano anterior, 2008, foi-lhe entregue a Medalha Manoel Augusto Pirajá da Silva, pela Comissão Organizadora do Centenário da descoberta e identificação do “Schistosoma mansoni” no Brasil, pelo médico baiano Pirajá da Silva, em 1908. Esse “schistosoma” é o helminto (verme) causador da esquistossomose, a doença muito ligada à pobreza e popularmente conhecida no Brasil como “barriga d’água”, entre outros nomes. Estatísticas informam que no mundo há por volta de 150 milhões de pessoas infectadas, cinco milhões delas brasileiros. Em 1988, o notável caxiense foi homenageado com a “Medalha do Mérito SUCAM”, do Ministério da Saúde. Também foi agraciado com os prêmios “Denigés”, “C. F. Mohr” e “Scheele”, dos laboratórios multinacionais Roche, Bayer e Rhodia, respectivamente. A excelência de seu trabalho levou-o a ser convidado a prestar serviços como consultor técnico de órgãos mundiais, entre eles o PNUD (Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde).

O caxiense Coelho Netto foi por si mesmo um grande contribuidor da CULTURA e do ESPORTE brasileiros. Além de ter sido eleito “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, Coelho Netto foi indicado nada menos do que três vezes para o Prêmio Nobel de Literatura. Cabe a ele, senão a autoria, a divulgação e fixação do epíteto “Cidade Maravilhosa” à capital do Rio de Janeiro; o nome foi título de crônica, de programa de rádio, de livros e de música popular oficializada hino municipal carioca. Coelho Netto, desportista, capoeirista, foi responsável pela elevação da capoeira no Brasil e foi o introdutor da palavra “torcedor” com significado de adepto de um time de futebol. Seu filho João, o Preguinho, foi autor do primeiro gol da Seleção Brasileira em Copa do Mundo. Coelho Netto também foi o introdutor do cinema seriado no Brasil, tendo sido roteirista e diretor de cinema.

Na POLÍTICA e ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, o caxiense Sinval Odorico de Moura foi um raro caso de brasileiro que administrou quatro Estados. Por outro lado, João Christino Cruz, agrônomo e político, foi o grande responsável pela criação do Ministério da Agricultura e é o presidente de honra da Sociedade Nacional de Agricultura. O médico, militar e político caxiense Joaquim Antônio Cruz contribuiu para a demarcação de fronteiras do Brasil com a Argentina e votou pela lei que aboliu os castigos corporais nas Forças Armadas. Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque foi o caxiense que, como gestor de unidade no IBGE, no Rio de Janeiro, fez a primeira contagem da população total do Brasil, em 1872. Em 2022, completaram-se 150 anos do Censo no Brasil, e novamente realizou-se o Censo Demográfico geral. Por ignorância que é grosseria ou por ignorância que é má vontade, nem o País, nem o Maranhão, muito menos Caxias ousaram lembrar aos brasileiros ou aos conterrâneos maranhenses e caxienses o simbolismo desse sesquicentenário…

Na RELIGIÃO, de Caxias agiganta-se nacional e internacionalmente o nome de Andresa Maria de Sousa Ramos, a Mãe Andresa, sacerdotisa de culto afro-brasileiro de renome internacional, última princesa da linhagem direta “fon”, estudada por escritores, sociólogos e antropólogos do Brasil e do Exterior. Andresa Ramos é da família de Paulo Ramos, caxiense que foi governador realizador — entre outras ações, criou a Rádio Timbira (1941) e o Banco do Estado do Maranhão, este fundado em 1939 e, em 2004, comprado pelo banco Bradesco.

No TEATRO, Caxias entra com Ubirajara Fidalgo da Silva, o primeiro dramaturgo negro do país, criador do Teatro Profissional do Negro, reconhecido e homenageado em grandes centros como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Brasília. A ele o Governo Federal dedicou 2016 como “Ano Ubirajara Fidalgo da Cultura”. Outro grande nome é o caxiense José Armando de Almeida Maranhão, considerado “A Pedra Angular do Teatro Paranaense”. Teatrólogo, professor, escultor e caricaturista, Armando Maranhão estudou em países como Inglaterra, França, Itália, Portugal, Espanha, Suíça, Bélgica e Holanda e teve aulas com notáveis do Cinema e Artes Cênicas do porte de Luchino Visconti, Federico Fellini, Roberto Rosselini, Michelangelo Antonioni e Lawrence Olivier.

Na MÚSICA, avulta Elpídio Pereira, com formação na França, onde conduziu orquestras e foi aplaudido. No Brasil, seu trabalho é conhecido e publicado em estados da Amazônia. Em sua terra natal, mal conhecemos a música do Hino oficial do município de Caxias.

Deixemos para futuros textos a continuação do rol de ilustres conhecidos e desconhecidos caxienses cujos trabalhos contribuíram para a construção e fortalecimento da História, da Cultura e da Identidade brasileira.

EDMILSON SANCHES
Da Academia Maranhense de Ciências e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Da Academia Caxiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias. Da Sociedade de Cultura Latina do Brasil (SCLB-MA) e da União Brasileira de Escritores (UBE-MA). Dos Conselhos Regionais de Administração e de Contabilidade do Maranhão. De Academias de Letras do Maranhão, Pará, Espírito Santo, São Paulo e Estados Unidos.
PALESTRAS, CURSOS, CONSULTORIAS:
[email protected]
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Fotos: Centro de Cultura, na região central da cidade, a Bandeira de Caxias e os caxienses Liene Teixeira, doutora em Agronomia/Botânica e Antônio Gonçalves Dias, advogado, poeta, etnólogo.

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