Alberto Pessoa (novaimagemrevista.com.br)
Fotos: Alberto Pessoa
Considerada uma área bastante preservada, apesar das constantes agressões ambientais a Reserva Biológica do Gurupi é uma reserva biológica federal localizada no estado brasileiro do Maranhão, abrangendo território do Pará. Criada pelo Decreto nº 95.614 de 12 de janeiro de 1988, no limite oeste do estado, perto da divisa com o nordeste do Pará, sendo a única Unidade de Conservação de proteção integral na Amazônia Oriental.
Protege uma das últimas porções da Amazônia maranhense, foi criada com o objetivo de preservar o ecossistema de Floresta Tropical Úmida entre a Serra da Desordem e a Serra do Tiracambu, nos vales dos rios Gurupi e afluentes. Localiza-se entre os municípios de Centro Novo do Maranhão, Bom Jardim e São João do Caru, no Maranhão com uma área de amortecimento que abrange outros municípios, como Itinga do Maranhão e Paragominas-PA.
A ÚLTIMA FRONTEIRA
Trata-se de uma reserva estratégica para a conservação, pois, somada às três terras indígenas vizinhas a ela (Alto Turiaçu, Awá-Guajá e Caru), constitui a última fronteira de área contínua amazônica do Maranhão. É um dos locais de estudo do Programa de Pesquisa em Biodiversidade – PPBio Amazônia Oriental e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia.
É um importante centro de endemismo e de elevada biodiversidade, e na reserva ocorrem espécies ameaçadas de extinção como a ararajuba (Guaruba guarouba), o mutum-de-penacho (Crax fasciolata pinima), o jacamim-de-costas-verdes (Psophia viridis obscura), a araçari-de-pescoço-vermelho (Pteroglossus bitorquatus bitorquatus) e o arapaçu-da-taoca (Dendrocincla merula badia).
Pesquisas identificaram a existência na reserva de: 109 espécies de peixes, 124 espécies pertencentes a 34 famílias de nove ordens de mamíferos e 503 espécies de aves para esta região do Estado, das quais 470 são residentes (não migratórias), como o gavião-real e a maria-caçula, um dos menores passarinhos do mundo. Também estão presentes duas espécies de primatas que só existem na Amazônia Oriental e extremamente ameaçadas: o Cairara Ka’apor (Cebus kaapori) e o Cuxiú-preto (Chiropotes satanas).
Seus principais afluentes localizam-se na margem esquerda em território paraense e sua bacia hidrográfica situa-se da seguinte maneira: 70% em território maranhense e 30% em território paraense. Devido a sua constituição geográfica, corre sobre rochas cristalinas e apresenta-se encachoeirado em longo trecho.
BACIA DO GURUPI
O rio Gurupi é formado pela confluência entre os rios Itinga e Açailândia, aproximadamente a 14 km acima do município de Itinga do Maranhão. O rio Itinga nasce na serra do Gurupi, extensão da serra do Tirambu, em terrenos com cotas superiores a 300m de altitude, na região a norte de Alfredo Lisboa e deságua no rio Açailândia. Durante um percurso de quase 50 km, faz a divisa com estado do Pará.
A serra do Tirambu constitui o principal divisor de água da bacia do Gurupi, estabelecendo limites com as bacias do Pindaré, do Turiaçu e do Tocantins, sendo responsável pelos maiores afluentes maranhenses, dos quais se destacam os rios Surubim, Guaramandi, Nova Descoberta, Tucamandiua, Cajuapara, Panemã, Apará e Jararaca. Outros afluentes são os rios Pequiá, Gurupi-Mirim, Rolim, Coaraci-Paraná, Uraim e Piriá.
No baixo curso, o rio Gurupi corre sobre um leito rochoso com várias cachoeiras, como: Lavadeira, Madalena, Jacurecoaga, Canindé- Açu, Maria Suprema, Itapera, Mamuira, Maguari, Omelar e Algibeira.
Após um percurso de mais de 400 km, durante o qual constitui o limite interestadual Pará-Maranhão, deságua no oceano Atlântico, através da baía de Gurupi.
A poucos quilômetros da foz (mais ou menos 10 km), há maior intensidade de águas entre o igarapé das Cobras (canal natural) e o rio Carutapera, ambos no lado maranhense. Essa ligação é importante por conectar Viseu, no Estado do Pará, a Carutapera, no Estado do Maranhão. Logo depois, o Gurupi encontra sua foz, no Oceano Atlântico.
O Maranhão se localiza em uma zona de transição dos climas semiárido, do interior do Nordeste, para o úmido equatorial, da Amazônia. Possui diferenças climáticas e pluviométricas. No oeste do estado, predomina o clima tropical quente e úmido (As), típico da região amazônica, enquanto que, nas demais regiões, há um clima tropical quente e semiúmido (Aw). Na região oeste do Maranhão, as chuvas ocorrem em níveis elevados durante praticamente todo o ano, com um breve período seco entre junho e agosto, superando os 2.000 mm, conforme se avança até a foz do rio Gurupi.
O rio é dominado pelo bioma da Floresta Amazônica, já bastante devastada pelo desmatamento, queimadas, produção de carvão vegetal, extração ilegal de madeira. A bacia também é afetada pelas indústrias de ferro-gusa, pecuária e plantio de eucalipto na região, o entrocamento rodoferroviário da região (BR-316, BR-010, Ferrovia Carajás e Ferrovia Norte-Sul) e o garimpo de ouro na sua foz.
Na região do médio curso, fica localizada a Reserva Biológica do Gurupi, também ameaçada.
Ao sul da bacia hidrográfica do Gurupi há proximidade com áreas de transição com cerrado, porém não há áreas de cerrado na bacia. Sua foz encontra-se inserida na região da APA das Reentrâncias Maranhenses, uma zona rica em manguezais e biodiversidade.
Na margem esquerda do rio Gurupi localiza-se a Terra Indígena Alto Guamá (habitada pelos tembés) e na margem direita a Terra Indígena Alto Turiaçu (onde vivem os ka´apores, awa-guajás e tembés, povos indígenas do tronco tupi-guarani.
Os índios Awá-Guajá são um povo caçador-coletor que vive em situação de isolamento no Maranhão, na região da Amazônia maranhense. Esses índios se distribuem pelas terras indígenas Araribóia, Caru, Awá, Krikati. As outras terras indígenas da bacia do Gurupi são Rio Pindaré (MA) e Alto Rio Guamá (PA). A região é foco de diversos conflitos envolvendo índios, madeireiros e fazendeiros.
Confira as fotos: