A Academia Caxiense de Letras (AIL), a Casa de Coelho Netto, abriu esta semana nada menos que CINCO vagas para completar, com a eleição, e posse, seu quadro de membros efetivos — 40 membros, mesmo número da pioneira Academia Francesa e seus 386 anos de fundação e contribuição à Cultura, sobretudo da parte ocidental do mundo.
Quatro das vagas dão-se, lamentavelmente, pelo falecimento de acadêmicos amigos e conterrâneos: Francisco de Assis Carvalho da Silva Junior, o Carvalho Junior, recentemente falecido; Jacques Inandy Medeiros, ex-presidente da AIL, também meu confrade no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias; Milson Sousa Coutinho (que é filho de Coelho Neto, município que, por sua vez, é “filho” de Caxias, daí eu ter chamado o Mílson de conterrâneo, quando do discurso de recepção que pronunciei na sua posse na Casa de Coelho Netto; e Raimundo Nonato Medeiros Silva, escritor e engenheiro, especialista em águas do Itapecuru, também ex-presidente da AIL.
O quinto nome, felizmente para todos nós, é do baita caxiense Antônio Augusto Ribeiro Brandão, economista de incursões internacionais, com diversos livros publicados na sua especialidade e com uma autobiografia já no forno, prestes a sair. Por sua requisição, nosso Augusto amigo tem transferida — e elevada — sua condição associativa naquele nosso Sodalício cultural. Brandão alça-se à categoria de Membro Honorário — que, como o próprio qualificativo antecipa, é uma honra, menos do Brandão, por recebê-la, e mais da Academia, por (man)tê-lo.
Depois de, por décadas e décadas, haver contribuído, como professor, para a formação de gerações e gerações de economistas; de haver, como gestor público, contribuído para o desenvolvimento de órgãos e cidades (inclusive a nossa Caxias); depois de, como palestrante, haver compartilhado pensares e saberes no Brasil e no Exterior; e, após tantas coisas benfazejas que brotaram de seu lúcido espírito, a neve dos anos ter-se acumulado sobre a cabeça e os ombros do Augusto Brandão, ele sabe que, pelo menos a esta altura, deve-se carregar menos “peso”, inclusive os institucionais, profissionais, associativos e que tais.
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Academias de Letras, Institutos Históricos e entidades congêneres são um troço engraçado: têm os que, estando fora, querem entrar, e, estando dentro, passam a não valorizar — valorizar não a entidade, mas a si mesmo, por deixar preguiçar-se e parar de cometer o ofício de escrever, ou escrever sem apuro (quando exigida ou esperada a norma culta), ou não pesquisar os fatos e pessoas da História, da Literatura, da Arte e Cultura etc. etc.
Acerca de um desses aspectos, Bernard le Bovier de Fontenelle, grande escritor e dramaturgo, membro da basilar Academia Francesa e de outras instituições que formam o poderoso Institut de France, escreveu em seus “Epigramas”, com “finesse”, o seguinte:
“Somos trinta e nove,
caem-nos aos joelhos;
Somos quarenta,
caçoam de nós.”
(Sommes nous trente-neuf, / on est à nos genoux; / Et sommes nous quarante, / on se moque de nous”. Tradução de Paulo Rónai.)
O grande Fontenelle (que morreu a 9 de janeiro de 1757, com 99 anos, a 33 dias de completar um século, em 11 de fevereiro) ilustrou, assim, o quanto acadêmicos são procurados por aqueles que desejam-lhe o voto, quando da abertura de vaga(s), e o quanto aqueles que não são eleitos criticam, por insatisfação, zanga, vaidade, inveja… ou falta de mérito, mesmo.
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Pois bem… Com a abertura de cinco novas vagas, a Academia Caxiense de Letras abriu a temporada de caça (a votos). Pré-candidatos já se mobilizam na juntada da documentação e nos contatos com os acadêmicos votantes.
Para evitar maiores assédios, declaro, em sã consciência, que já me comprometi com três candidatos, aliás, candidatas, três mulheres de boa cepa cultural, literária e caxiense. Ainda resta-me o direito a mais dois votos, e não me negarei ao dever de receber o contato e conversar com eventuais pessoas pré-candidatas.
Espero que, futuramente, os eleitos aumentem a vida de seu currículo e não tornem sua condição de membro da Academia apenas um item no currículo de sua vida.
Tá declarado.
Por EDMILSON SANCHES
Fotos: Antônio Augusto Brandão, membro honorário da ACL, e os acadêmicos falecidos Carvalho Junior (à direita, com Edmilson Sanches), Jacques Inandy Medeiros, Mílson Coutinho e Raimundo Medeiros.