Antônio Gonçalves Dias: o príncipe dos poetas

Compartilhe
Share on facebook
Share on twitter
Share on pinterest

Por: Alberto Pessoa (Jornalista, escritor)

“Voilà Phistoire du poète. Elle est .simple comme Ia na-ture, triste comme la vie. Elle consiste à souffrir et à chanter” (LAMARTINE, Vie de quelques hommes ilustres. Tomo I, Homère, pág. 34,)
(“Esta é a história do poeta. Ela é simples como a natureza, triste como a vida. Consiste em sofrer e cantar”. (LAMARTINE, Vidas de alguns homens ilustres. Tomo I, Homero, pág. 34.)

No bicentenário (1823-2023) do importante poeta brasileiro Antônio Gonçalves Dias, natural de Caxias – MA, produtor de um acervo literário de extrema relevância para educação brasileira precisamos resgatar, através e pesquisa, um pouco da história de vida e obra do escritor a fim de que possa servir como herança cultural e potencial fonte de informação para esta e futuras gerações. Neste artigo pretendo sintetizar o projeto encaminhado recentemente à apreciação do Ministério da Cultura, via Lei de Incentivo Cultural (Lei Rouanet) vislumbrando patrocínio. A proposta foi aprovada pela Lei Rouanet.


Ao tempo em que busca-se parceria de empresas privadas com a lei de incentivo fiscal. A publicação em tela reúne artigos de renomados escritores, pesquisadores com contextualização em síntese da brilhante trajetória de um dos escritores mais populares do país: Antônio Gonçalves Dias. Para contextualizar a obra de Gonçalves Dias se faz necessário dissecar a história dos 200 anos de Caxias – MA, palco de revoltas como Balaiada, com influência na revolta do Genipapo e de suma relevância para a Independência do Brasil. Foi nesse munícipio maranhense que Duque de Caxias recebeu o título de Barão.
Ao fugir dos movimentos revoltosos, os pais do poeta embrenharam-se pelas matas virgens da província onde, em um ambiente natural, sob sinfonias da fauna e da flora, regidas pelo ranger da palmeira e do canto do sabiá veio ao mundo o escritor Antônio Gonçalves Dias.
Os objetivos artísticos da publicação consiste na divulgação de livro físico e E-book, com 250 páginas em comemoração aos 200 anos de nascimento do poeta Gonçalves Dias. Enfatiza, ainda, a história da Cidade de Caxias, Maranhão, em seu bicentenário, sua arte e sua cultura que influenciaram a vida cultural, histórica e literária brasileira

O objetivo principal do projeto foi apresentar uma proposta sustentável com cunho social de grande relevância. O livro físico deverá ser produzido com papel reciclado e tiragem média de cerca de 5 mil exemplares. A edição virtual (e-book), será o destaque da obra que terá o seu alcance direcionado ao setor educacional. O arquivo do virtual da obra deverá ser hospedado nas plataformas digitais e livrarias tanto da empresa patrocinadora, quanto de sítios especialistas na comercialização e divulgação de livros.
O valor do E-book será 80% (oitenta por cento) inferior ao livro físico, para que se torne de fácil acesso ao público, principalmente a estudantes, professores e pesquisadores. O acesso ao E-book será restrito ao comprador. As secretarias de educação de todos os 5.568 municípios brasileiros receberão uma cópia do E-book, sem nenhum ônus. Isso, proporcionará o livre acesso de estudantes e pesquisadores ao arquivo da obra. A edição física será enviada, sem ônus, a todas secretarias de estado da educação, bem como às academias de Letras de cada estado.
A obra será amplamente divulgada com lançamentos em todos os estados e em Portugal, Coimbra, sistematicamente. Os eventos de lançamento serão promovidos por chamadas midiáticas, entrevistas na imprensa, com ampla divulgação nas redes sociais e sites.


Os eventos terão transmissões ao vivo pelas redes sociais e promoção de debates através de aplicativos da Internet. Será realizada a produção de um curto documentário sobre a vida de Gonçalves Dias, dos tributos que lhe foram prestados como: nome de cidade, praças públicas e outros logradouros. O documentário será exibido nos momentos que antecederão a apresentação de lançamento da obra. Este documentário será anexado ao E-book como apresentação da obra nas plataformas digitais.
Os lançamentos contarão também com banners informativos da obra. Todas as peças terão as marcas do órgão de incentivo fiscal e da empresa patrocinadora.


RELEVÂNCIA CULTURAL DO PROJETO


O projeto é de suma relevância para a sociedade. Gonçalves Dias foi um poeta, professor, jornalista e teatrólogo brasileiro. É lembrado como o grande poeta indianista da Primeira Geração Romântica. Deu romantismo ao tema índio e uma feição nacional à sua literatura. É considerado um dos melhores poetas líricos da literatura brasileira. É Patrono da cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras.
A história de vida e obra de Antônio Gonçalves Dias é muito relevante para a educação brasileira. Apesar do vasto acervo sobre o volumoso trabalho do escritor, nesta obra pretendemos reunir os principais pontos da trajetória de Dias trazendo à luz uma narrativa que deve servir como referência em pesquisa literárias e históricas, paradidáticas, de suma necessidade para a dinâmica educacional.
Além disso, a obra representará o fomento à cultura na medida em que incentivará a busca pelo conhecimento por meio da pesquisa e da leitura, sobretudo, porque a publicação será direcionada às escolas. A obra estará acessível ao público em geral, levantando aspectos significativos da história do país. Isso porque, a trajetória de Gonçalves Dias se confunde muitas vezes com a memória de formação do Estado brasileiro.


DIVISÃO DO LIVRO
A publicação será apresentada em 09 capítulos sobre vida e obra de Gonçalves Dias, contextualizada a partir da história da cidade de Caxias, no Maranhão.
A história de Caxias começa, no século XVII, com o Movimento de Entradas e Bandeiras ao interior maranhense para o reconhecimento e ocupação das terras às margens do Rio Itapecuru, durante a invasão francesa no Maranhão. A cidade maranhense foi, primitivamente, um agregado de grandes aldeias dos índios Timbiras e Gamelas que conviviam pacificamente com os franceses. Em 10 de agosto de 1823, nascia em Caxias, Antônio Gonçalves Dias, que escreveu entre outros “Canção do Exílio” e “Canção do Tamoio”. Nasceu em meio ao término da Guerra da Balaiada, um dos maiores autores da literatura brasileira. Gonçalves Dias nos eternizou em um dos principais símbolos nacionais: a Bandeira Nacional Brasileira, com dois versos extraídos da sua Canção do Exílio – ” nossos bosques têm mais vida / nossa vida -“em teus seios-” mais amores “. O poeta Gonçalves Dias nunca morreu, e, sim, se encantou num naufrágio, pois só o criador da vida eterna dera ao “poeta soberano por berço o equador e por túmulo o oceano”! Se faz necessário o resgate da história do poeta, escritas em obras biográficas sobre ele, Teses, Prefácios, Ensaios, Estudos e demais publicações sobre a singular e excepcional pessoa que foi Gonçalves Dias.


DIAS DE GONÇALVES DIAS
“História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares de França” — também foi o primeiro livro lido por Gonçalves Dias na sua infância. Os versos gonçalvinos entram como exemplo de um “valor” que se sobrepõe a muitas “coisas”. Embora a fragilidade do papel, os versos foram mais resistentes que as grandes construções de pedra e cimento, como as fábricas de tecido. Estas, aparência; aqueles, essência –– e por aí podem ir as obviedades, quase platitudes. Escritos em julho de 1843, quando Gonçalves Dias ainda não completara 20 anos, os versos da “Canção do Exílio” atravessam gerações e se depositam e se (re) transmitem quase como que por hereditariedade. Parece não mais ser essa fixação resultado da leitura, mas produto de um código genético, uma informação cromossômica que se repassa no intercurso sexual e se vai instalando na mente de cada novo ser. Gonçalves Dias, sabemos, morreria com 41 anos, no dia 3 de novembro de 1864, afogado nas águas marítimas da baía próxima do município de Guimarães (MA), após o naufrágio do “Ville de Boulogne”, o navio que trazia o caxiense, muito doente, de volta à sua terra”. “Voilà Phistoire du poète. Elle est .simple comme Ia na-ture, triste comme la vie. Elle consiste à souffrir et à chanter” (LAMARTINE, Vie de quelques hommes ilustres. Tomo I, Homère, pág. 34,) “Esta é a história do poeta. Ela é simples como a natureza, triste como a vida. Consiste em sofrer e cantar”. (LAMARTINE, Vidas de alguns homens ilustres. Tomo I, Homero, pág. 34.)


NASCE O POETA
“nessa hora em que a flor balouça o cálice. Aos doces beijos da serena brisa. Quando o sol vem doirando os altos montes. E as ledas aves à porfia trinam”: Seguindo como exemplo o documento “Pantheon Maranhense”, de Antônio Henriques Leal, iremos nesta obra acompanhar Gonçalves Dias desde o berço até a sepultura, que acharemos em muitos dos seus versos o verdadeiro reflexo dos seus sentimentos, o cunho de sua individualidade dupla. A cidade de Caxias, onde residia seu pai, o negociante João Manuel Gonçalves Dias com sua mãe Vicência Mendes Pereira, mulher de cor acobreada não oferecia então tranquila seguridade a quem, como ele, abraçara com tanto fervor a causa da mãe-pátria, pronunciando-se franca e lealmente contra as ideias emancipadoras. Era português, e nisso seguia antes os impulsos de seu coração do que os ditames da razão e do interesse que lhe aconselhariam a prudência e certa reserva quando o movimento revolucionário, vitorioso já em S. José dos Matões, no Brejo, na Tutóia, no Itapicuru-Mirim, já ameaçava, entrincheiradas as tropas no Morro das Tabocas, com o apertado cerco em que tinha a cidade, assenhorar-se dela e dominar todo o distrito. Receoso João Manuel Gonçalves Dias das perseguições, ou quando menos de demonstrações um pouco rudes do desagrado da soldadesca e das turbas, que o olhariam de má vontade, como inimigo da causa nacional, ou para esquivar-se ao pagamento da quota que lhe competia na contribuição de guerra, a cuja cobrança se estava procedendo por ordem da junta da delegação expedicionária e de conformidade com a capitulação de 31 de julho, ou por ambos esses motivos, o certo é que achou ele de melhor aviso homiziar-se, ocultando-se nas matas das terras do Jatobá, em um sítio chamado Boavista, afastado da cidade de Caxias obra de quatorze léguas, e aí em uma tosca choupana de folhas de palmeira, como soem ser fabricados os nossos tijupabas, na mais completa solidão, no sombrio da mata virgem, tendo por testemunhas frondeeis e seculares árvores e seus voláteis habitadores, assim como o mimoso e matizado beija-flor rompe a casca e sai do ninho posto entre flores na espessura de verdejante moita, tal veio ao mundo Antônio Gonçalves Dias ao amanhecer do dia 10 de agosto de 1823. Mal contava Gonçalves Dias um mês de nascido, quando seu pai, julgando em seus excessivos receios o remontado e escuso sítio onde se refugiara com a família e o irmão asilo não de todo seguro, passou-se às ocultas para a cidade de São Luís e daí embarcou-se para Portugal, vivendo por todo o tempo que aqui permaneceu em Trás-os-Montes, sua província natal. Daí então começa uma caminhada.


NO PORTO DO DESTINO
Em janeiro de 1845 recolheu-se o poeta à cidade do Porto de volta de suas digressões às províncias do norte de Portugal. Via-se aí insulado e por outro lado salteado de saudades dos amigos; que já haviam todos partidos para o Brasil. Para se lhe tornar ainda mais desesperada a situação, combatiam-no mil privações, e assim com o espírito desalentado e travado de tristeza, tanto foi chegar à cidade invicta como cuidar logo de se tornar ao Maranhão. Deparando monção breve, embarcou-se no fim desse mês a bordo do brigue-barca Castro II; mas tão baldo de meios que tomou passagem com a condição de a pagar no porto do seu destino. Pobre e desconhecido, sem um nome de família bastante poderoso ou respeitável para o patrocinar, antes marcado desde o berço com o que é considerado um duplo estigma, odioso para uma sociedade, como a nossa, atrasada, e onde tanto imperam os preconceitos de nascimento, tinha Gonçalves Dias a alma lanceada pelas previsões de um futuro sombrio, e assim engolfava-se em pensamentos que lhe atribulavam a mente e prostravam o espírito. Quantas e quantas vezes, no longo decurso dessa viagem, estendendo a vista pelo vasto paramos das planuras oceânicas, achava no soluçar plangente das ondas e naquele vagalhar incessante semelhanças com a sua vida incerta e cortada pela desdita! Assim também corriam seus pensamentos torvos e melancólicos como as primeiras horas da noite na solidão dos mares. Outras vezes, alheado de si e todo entregue a suas tristes cogitações, não atentava nas maravilhas da natureza que lhe estavam provocando à porfia a imaginação incendida do poeta, já com o marulhar ora gemedor, ora tumultuoso, das vagas, com o sussurro dos ventos pelas enxárcias e velas, com a solidão majestosa do oceano tão ilimitado e imenso, ora quedo e sereno todo bonança a espelhar a abóbada azulada do firmamento; ora alteroso, rugindo e todo negrumes e pavor, com o horrível e sublime espetáculo da borrasca! Sentado ao cair da tarde na proa do navio, deixava a reveses que corressem livres as lágrimas, e pendia-lhe então sob o peso dos infortúnios aquela nobre fronte que havia um dia erguer-se acima de todas radiosas e cingida pela auréola da glória! Apesar das preocupações da vida positiva que incessantemente o acometiam, entibiando-lhe a fantasia, ainda assim recuperava por momentos o seu império, tanto que, nessa viagem compôs os seus sublimes hinos O Mar e a Ideia de Deus” e o poemeto Analva, que só depois, quando navegava pelo rio Itapicuru em demanda da sua Caxias é que os pôs por escrito. Nas raras horas em que não cismava na sua infortunada sina, e no que estava o coração a pressagiar-lhe na pátria, entregava-se à leitura de seus autores prediletos — Filinto Elísio, Virgílio, Horácio e Victor Hugo.


DE VOLTA AO BRASIL
seus Primeiros Contos: No dia 6 de julho do ano de 1846 chegou ao Rio de Janeiro, depois de uma trabalhada viagem de vinte e um dias, cheia de acidentes desagradáveis, como ele próprio nos refere “Foi maldita a viagem, e tanto que eu desesperava de chegar a salvamento. Saindo da Paraíba encontramos um iate pelo meio da noite. Houve abalroamento, a tripulação saltou para o vapor, e creio que aquele foi ao fundo. Em Pernambuco arrebentou uma amarra, e andamos às cristas com os navios ancorados. Na Bahia o contramestre matou um companheiro e amigo! Ao entrar finalmente no Rio faltou-lhe carvão ao vapor, e uma das caldeiras por estar rachada, ou por outro qualquer motivo, deixou de funcionar. Entramos, pois, no dia 6 à noite e desembarcamos a 7. Ao desembarcar a bagagem, vi eu que uma caixa de livros estava molhada; estragaram-se os três últimos volumes do Byron, alguns de Filinto, todos os meus escritos, etc., etc. E por fim, como eu não posso mudar de terra sem granjear moléstias, estou com a boca toda ferida, não sei de quê, talvez seja por causa do creosote de que fiz muito uso para aliviar de dores de dentes, talvez ainda do charuto: veremos de que é!! Nesses seis dias vou fazer imprimir os prospectos dos meus Primeiros Cantos”.


RETORNO A EUROPA
A 15 de junho de 1854 partiu para a Europa, levando consigo a esposa e uma cunhada. Foi acolhido em Lisboa com fraternal entusiasmo pelos literatos portugueses, e os jornais de todo o Reino deram notícia da sua chegada em termos assaz lisonjeiros e como de quem rendia preito de admiração a tão ilustre e célebre hóspede; mas ainda desta vez para que não durassem por muito tempo a alegria do poeta, veio o amargo travo do pesar entornar sobre elas seu negro fel. A Laura do nosso Petrarca, não desmentindo a Leviana dos Primeiros Cantos e sempre
vária e melindrosa
Qual formosa
Borboleta num jardim
esqueceu-se do objeto de seus amores e dedicou-os a outrem (fatal destino!) nas mesmas desfavoráveis condições de origem e nascimento, e sem o nome, a glória e os predicados que exalçavam o grande poeta e lhe ornavam a coroa de artista. Como era de razão, opôs-se a família a um casamento tão desproporcionado e desvantajoso, tanto que para sua realização foi de mister interferir a justiça. Um mês depois esse indivíduo, que era negociante, tinha falido fraudulentamente, e para evitar a prisão ocultou-se e fugiu furtivamente para Lisboa. Foi em uma das ruas desta cidade que o poeta encontrou inesperadamente aquela mulher dantes risonha, trajando sedas e toda louçã, e agora pobre, abatida, com as feições desfeitas e trocadas as galas dos tempos felizes em rigoroso e profundo luto! O latente e mal sopitado fogo da paixão ateou-se violento, e as feridas não de todo cicatrizadas reabriram-se de súbito com aparição tão improvisa. Rebentaram-lhe involuntárias lágrimas, e desvairado voltou para casa, onde a sós consigo deu largas à comprimida dor que lhe despedaçava o peito. Foi nesses transes tão dolorosos e cruéis que brotou-lhe viva, sublime e verdadeira essa plangente poesia — Ainda Uma Vez Adeus — fiel cópia do estado de sua alma. Ao visitá-lo pouco depois em Paris, para onde partiu, Manuel Odorico Mendes, a quem a dera a ler, atirou sê-lhe este nos braços, declarando-lhe que nunca poesia alguma lhe fizera derramar mais doridas e sinceras lágrimas do que essa, sendo que nisso resumia o maior e melhor elogio que dela lhe podia fazer. É que almas assim privilegiadas, e afinadas pelo sentimento do belo, adivinham e descobrem o que é dor real, e que irrompe involuntária do peito de quem a sofre! Nasceu-lhe a 20 de novembro, já em Paris, uma filha, fruto de seu consórcio; mas tão fraca e enfermiça que entendeu ser-lhe a ela útil, como também à mãe, que padecia no clima da Europa, uma viagem de alto-mar e mudança para os ares pátrios. Nessa conformidade mandou-as para o Rio de Janeiro em companhia do sogro. A 17 de abril de 1855 já se achavam ali, onde não houve cuidado nem medicina que valessem à criancinha, que a 24 de agosto, dia imediato ao do aniversário do nascimento do poeta, já estava na mansão dos justos. Sentiu ele profundamente esse golpe, cuja memória trazia tão gravada no coração que ainda em 1861, nas afastadas e selváticas solidões do Amazonas onde o aculeava toda a sorte de recordações tristes e saudosas, dedicou-lhe várias poesias, como mo comunicou em mais de uma carta e das quais conservei uma que com o título de — Estâncias — vai publicada no primeiro volume de suas Obras Póstumas. Depois de ter percorrido a Bélgica, a Inglaterra, a Itália, a Suíça e diferentes estados da Confederação Germânica, a fim de examinar em países onde a instrução pública está tão adiantada quais os sistemas mais convinháveis a adotar-se na nossa pátria, tornou-se a Lisboa onde entregou-se a investigações de documentos históricos na Torre do Tombo e nas bibliotecas nacionais de Évora e de Lisboa, mandando extrair cópia de tudo quanto lhe pareceu de proveito para a nossa história, e para as questões territoriais, como sesmarias, forais, privilégios etc., que tudo enviou para o Arquivo Público.


UM PEQUENO PRÍNCIPE
Esboço moral desse grande vulto cujo brilho reflete sobre o Brasil: Era Gonçalves Dias, como Horácio e como Dante, de baixa estatura, que não excedia a 1,50m; mas bem proporcionado e musculoso: tinha mãos e pés mui pequenos, agilidade nos movimentos, passo curto e apressado, e grande disposição para caminhar a pé. Sua cabeça bem desenvolvida para os lados das fontes era realçada por uma fronte elevada e ampla, profundamente vincada em toda a sua extensão pelo longo meditar e pelas acerbas agruras da sorte contrária que incessantes o magoavam. Seus olhos pequenos, pardos, serenos, mui vivos e expressivos, espelhavam a franqueza de seu caráter e acentuavam aquele móvel e simpático rosto. Boca e nariz regulares, sendo as asas deste um pouco arregaçadas; tez morena, barbas e cabelos raros, castanhos, macios, anelados nas extremidades, sem contudo denunciarem, quer eles ou as maçãs, por mui salientes, sua origem mestiça. Quando em boa companhia ou entre amigos, franzia-lhe constante os lábios sincero e franco sorriso, e tomava larga parte na conversação, principalmente se havia senhoras de espírito e cultura na sociedade; porque então o poeta desentranhava-se em conceitos agudos e engraçados, cheios de delicadeza e dessa amena zombaria que não ofende, e em que ninguém o vencia quando estava de veia. Era outro a sós consigo; aquele supremo esforço abandonava-o e os tristes pensamentos livres e distrações e contenções, vinham anuviar-lhe a mente, transformando-lhe o riso em traços de profunda melancolia e mergulhá-lo em tristeza e em fundo meditar. Eis um resumido e desbotado esboço o poeta Antônio Gonçalves Dias, de quem entre os muitos retratos fotográficos, tirados em diferentes épocas, e alguns a óleo, só conheço dous que são parecidos ao original — o que está em uma das salas da câmara municipal da cidade de Caxias, feito a expensas do Sr. João Manuel Gonçalves Dias, irmão do poeta, e por ele oferecido a essa corporação, e outro que me pertence, ambos devidos ao pincel do distinto pintor francês M. Viennot, que soube, por indicações sobre uma de suas melhores fotografias, apanhar com suma felicidade e talento as feições do poeta e reproduzi-las fielmente na tela. É ele que serviu de cópia à gravura que vai em frente deste volume. Verbo fácil, correto e elegante; conversação cheia de encantos e atrativos por sua variedade, bom humor e despretensão e chiste, e quando pedia o assunto com profundeza e saber, expressava-se com clareza e em metal de voz agradável, e se bem que não mui volumosa e musical, bastante simpática. Não possuía o dom da declamação, e por isso seus versos lidos, por ele, perdiam muito daquele sabor e colorido que lhes são qualidades tão peculiares.


CANTOS DE GONÇALVES DIAS
E assim devia de ser pelas excelências do indivíduo e da sua obra-prima — Os Cantos — desse tesoiro onde não há joia que não seja de grande valor e que não tenha apreciadores entusiastas já de sua forma, de sua metrificação, já de sua essência, de seu conceito e elevação de ideias e de sentimento, sendo notáveis pela novidade, relevo, graça, frescor e colorido das imagens. São essas poesias, na frase expressiva de Voltaire, sem que se possa contrastar-lhes qualquer liga. Não apontarei Seus Olhos (pág. 30 dos Cantos — 1857) tão preconizados pelo egrégio literato português, o Sr. Alexandre Herculano, e depois dele por quantos têm escrito a respeito dos versos de Antônio Gonçalves Dias, o Canto do Guerreiro (pág. 5 dos Cantos) e em geral todas as poesias americanas, que mereceram particular menção do historiador português, do sábio alemão Fernando Wolf, dalguns críticos alemães, do Sr. Dr. Macedo Soares, e finalmente de quem sabe avaliar o que há nelas de belo, de originalíssimo e de natural. Entre as demais poesias que formam o primeiro volume das Obras Póstumas de Gonçalves Dias sobressaem os sonetos, que resumem os três personagens do romance Notre Dame, de Victor Hugo e o que começa: Baixel veloz, que ao úmido elemento (Son. VI, pág. 145). É às poesias líricas que o poeta apraz confiar suas impressões e sentimentos pessoais, e nem concebo também lirismo que não seja individual como a solidão que envolve o poeta, as paixões que lhe tumultuam no peito, sem o que é comum, desbotado, e convencional e fictício o que produz. “Canta o poeta, antes chora, diz Chateaubriand (se me não falha a memória) seus infortúnios, o céu perdido, o amor concentrado no coração, as lutas de sua inteligência e os contrastes de seu enigmático destino!” Não faltavam a Gonçalves Dias as condições que assinala Lamartine ao poeta para que seja considerado perfeito, porque, como a de Homero, era a sua lira viva em todas as suas cordas, com a escala humana tão extensa como a natureza.


NO FIM DA VIAGEM
O poeta Gonçalves Dias retorna à cidade de São Luís em 1864 no navio Ville de Boulogne, que naufragou na costa brasileira; salvaram-se todos, exceto o poeta que foi esquecido agonizando em seu leito e se afogou. O acidente ocorreu nos baixios de Atins, perto da vila de Guimarães no Maranhão. O triste fato foi bastante noticiado pelos jornais da época, legou para o momento e as gerações futuras a certeza de que o corpo de Gonçalves Dias jamais fora encontrado.


DOCUMENTOS MARANHENSES

Jomar Moraes, no livro Gonçalves Dias: vida e obra realiza uma síntese cronológica-biográfica do poeta. Os assuntos tratados são variados como onde o poeta nasceu, rumo à Coimbra, regresso ao maranhão, Rio de Janeiro: lutas e glórias, a missão oficial e os ventos do amor, viagem à Europa, A busca da Saúde e a última viajem, entre outros.
Têm-se ainda apêndice com imagens e documentos.

SOBRE CAXIAS
Para contextualizar a história de Gonçalves Dias é necessário conhecer o passado e a formação de Caxias. Os aspectos cronológicos do surgimento da cidade decorreram de um processo que se confunde com a história de independência do Brasil. A povoação do local onde se situa Caxias teve origem a partir de uma fazenda de gado onde se formou um arraial. O desenvolvimento da cidade ocorreu às margens do rio, tendo como habitantes inicias: indígenas, criadores de gado, jesuítas, colonos e mercadores. De 1730 a 1740 o arraial começa a se destacar na produção de algodão na capitania. A partir daí a população começa a aumentar e a surgir a necessidade de estruturação do local. Além disso, para compreender a cronologia e os efeitos políticos da Independência, a obra tratará do período regencial, momento importante que culminou tempos depois na Proclamação da República em 1889. Também será apresentado como essa conjuntura nacional permeou e influenciou o quadro político-histórico de formação do Maranhão.
Assim iremos destacar a história de Caxias com citações e pesquisa na vasta literatura sobre o município desde sua origem aos tempos atuais.

(Alberto Juracy Pessoa Sobrinho
Bacharel em Comunicação Social, Licenciado em Geografia pela UEMA e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão) Jornalista, professor, escritor, autor de crônicas, contos e poesias, Alberto Juracy Pessoa Sobrinho, nasceu em Caxias (MA). Membro do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Portugal. Núcleo Académico de Letras e Artes de Buenos Aires. Da Academia Mineira de Belas Artes e Academia de Letras e Artes do Rio Grande do Sul. Academia Aguaslindense de Letras. Academia Gamense de Letras. Fundador da (novaimagemrevista.com.br.)

Foto: AP

Sobre o autor
Revista Nova Imagem
Revista Nova Imagem
Revista Nova Imagem, sua fonte de informação.
Deixe um comentário:
Inscreva-se em nossa Newsletter e receba as últiamas notícias em seu e-mail:
Últimas Notícias
Jesus Pearce
Nonato Santos

Mais um festejo de São Francisco das Chagas

No Sábado, 25/09, teve início mais um festejo de São Francisco das Chagas, no povoado Alto São Francisco município de São João do Soter, mais foi no domingo que juntamente com minha esposa (D.Elizane) resolvemos fazer uma visita ao Alto, matar a saudade pois não fomos em 2020, o pessoal

LEIA MAIS »
Leia também
Join our newsletter and get 20% discount
Promotion nulla vitae elit libero a pharetra augue