Ando não meio, mas inteiramente cansada de muitas coisas. Da vida insana a que somos submetidos todos os dias.
Da maldade, inveja e do sarcasmo explicito do ser humano. Hoje vi de longe um ônibus sendo assalto na estrada.
Pude perceber o pânico no olhar das pessoas. Eu parada ali, tão próxima, ao meu lado um lindo Ipê roxo distorcia aquela cena que aterrorizava a estrada e as pessoas.
Então imaginei como a natureza sofre agressão de todos as formas. A cruel natureza humana afronta de todo jeito a essência da vida!
Procuro dentro de mim pedaços que perdi nesta guerra, amigos e parentes que já se foram, sentimentos que eram tão puros acabaram morrendo, sufocados nesta poluição extrínseca.
Continuo de pé, mesmo arquejando, sinto falta de paz, ,vejo o mundo com pessoas correndo, cenas que lembram os velhos e marcantes retratos do holocausto, fico confusa, não sei em que tempo estamos vivendo, ou pior, sei bem, e por questões de juízo, prefiro não falar.
Em meio a tudo isso, sinto falta dos cabelos de minha filha, quando eu a sentava no colo e fazias tranças, olhava para seu nariz arrebitado, e dizia o quanto ela era linda, e continua sendo, mas já não penteio mais seus cabelos, e meu colo perdeu a vez para os enlaces da vida.
Olho meu filho e procuro um menino, mas já é um homem, e seu rumo também tomou, e eu que já contei tantas histórias, ficarei desenhando nas paredes cenas que cansei de ver no passado e que agora se tornam fantasmas da consolação, diante dos paleotérios a que somos expostos.
Desta cruel realidade não devo me esquivar, mas ainda posso escolher o que consumir física e mentalmente, até segunda e determinante extrema ordem!
Márcia Magalhães é poeta e pós graduada em Artes Cênicas.