ANTÔNIO NASCIMENTO CRUZ, ARQUITETO, DIRETOR ARTÍSTICO, MÚSICO E ATIVISTA CULTURAL
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Uma das maiores expressões culturais maranhenses faria 71 anos neste 27 de janeiro. Mas, nascido em Caxias em 1950, Antônio Nascimento Cruz, arquiteto, músico, ativista cultural, faleceu em 24 de agosto de 2019, um sábado.
Cruz, como mais era chamado, formou-se em Arquitetura e Urbanismo na turma de 1975 da Universidade de São Paulo (USP). Fez pós-graduação na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), especializando-se em Acústica e Cenotecnia.
Conhecido ativista cultural, foi secretário municipal de Cultura em Caxias e presidente do comitê organizador do carnaval caxiense de 1986. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), era ocupante da Cadeira nº 13, que tem como patrono o advogado, jurista e escritor caxiense João Mendes de Almeida. Presidente vitalício do Centro de Folclore e Arte Popular de Caxias, o conhecido CEFOL. Presidente da Escola de Samba “Malucos por Samba” e do Bumba-meu-boi “Brilho da Princesa”. Como empresário e arquiteto, era dono da CANEK – Projetos e Construções (A. N. Cruz), formalmente aberta em 25 de fevereiro de 1987, dedicada às atividades de consultoria e de prestação de serviços técnicos de arquitetura, entre as quais projetos de arquitetura de prédios (projetos conceituais, projetos de detalhamento etc.), supervisão da execução de projetos de arquitetura, projetos para ordenação urbana e uso do solo e projetos de arquitetura paisagística.
Com talento múltiplo, além de arquiteto e construtor, também era músico, compositor, pesquisador, cantor, conferencista. Compôs música para Teatro e Cinema, programas para videocassetes e televisão e gravações para emissoras de rádio. Dirigiu ateliê de construção de instrumentos musicais autóctones (próprios de um país ou região). É autor de peças de teatro musical. Escreveu métodos e livro sobre instrumentos musicais brasileiros e obras literárias voltadas para a música.
Morou em diversos países, como funcionário do setor cultural de Embaixadas do Brasil no México, Canadá, Estados Unidos, Portugal, Espanha e Alemanha.
Suas atividades internacionais incluíam investigação musical de acústica instrumental e de instrumentos autóctones (próprios de um país ou região), em diversos países do Continente Americano. Fez conferências em escolas de música no México, Canadá, Estados Unidos e Espanha. No Norte da América fez até experimentos científicos e musicais com baleias. Na Universidade Autônoma de Guadalajara (UAG), no México, ministrou cursos de música experimental contemporânea brasileira. Ainda no México, foi professor de Música Brasileira com instrumentos típicos, no Instituto Goethe, entidade onde também foi diretor de Música Étnica Contemporânea, mesmo cargo que exerceu na Universidade Metropolitana daquele país. Também no México, o caxiense foi assessor de programas brasileiros veiculados pela TRM, a Televisão da República Mexicana, que foi absorvida pela atual TV Azteca, privada. Antônio Cruz também foi produtor e diretor do programa de TV “Brasil em México Hoje”.
Criando, coordenando e dirigindo, fez e aconteceu com a Cultura Brasileira em terras mexicanas: na capital, Cidade do México, dirigiu o Atelier Orquestra Oxossi, do Centro de Estudos Brasileiros, cujo Departamento de Música foi fundado e coordenado por ele. Antônio Cruz também fundou e dirigiu, em 1984, o Centro de Estudos Brasileiros em Yucatán, o turístico estado do sudeste mexicano em cuja capital, Mérida, Cruz foi diretor artístico do Carnaval daquele ano de 1984. Antes, em 1982, ele assessorou o Carnaval da cidade de Mazatlán (fundada em 1531), no estado de Sinaloa, no oeste mexicano. A experiência carnavalesca levou-o a organizar, produzir e dirigir o Carnaval brasileiro no México em 1984. Ainda na capital mexicana, produziu e dirigiu o evento “Noites Cariocas”.
A profusão de atividades culturais, ligadas sobretudo à Música mas também ao Teatro e à TV, registra-se pelo menos desde 1976, quando Antônio Cruz discorreu sobre “Música Afro-brasileira” no Fórum do Museu Universitário de Ciências e Artes da Universidade Nacional Autônoma do México. O mesmo tema voltaria no ano seguinte, 1977, na Aliança Francesa mexicana. Ainda em 1977, em Ottawa, capital e cidade com o maior nível educacional do Canadá, Cruz apresentou “Instrumentos Latinos Aplicados ao Jazz” e fez concerto de música brasileira na Carleton University, além da performance “Brazilian Primitive Jazz”.
De 1978 até 1986 foram nove anos de extensa e rica lista de eventos, apresentações, direção artística e produção etc., pelo menos mais de cinquenta, em diversos estados e cidades do México, Canadá e Estados Unidos (Califórnia), em universidades, museus, teatros, salas, institutos…
Antônio Cruz falava, tocava (instrumentos e corações), coordenava, dirigia, organizava, produzia… Concertos, cantos, instrumentais, danças… Música brasileira, afro-brasileira, jazz, música experimental, música contemporânea, música mitológica, música étnica, música do Xingu brasileiro, percussão brasileira, carnaval, dança…
A consistência dos trabalhos repercutiu na Imprensa dos diversos países. O nome “Antônio Nascimento Cruz”, que denominava diversos eventos passou a compor, também, manchetes e títulos de matérias em jornais. Ele enviou-me, semanas antes de falecer, um conjunto de recortes de jornais de diversos países onde seu trabalho musical e artístico-cultural era bem recebido e bem noticiado — o que contribuía para uma positiva formação, fixação ou ampliação de imagem de Caxias, do Maranhão e do Brasil.
Em nossas longas conversas em Caxias, na sede do CEFOL ou no Instituto Histórico e Geográfico (IHGC) ou em encontros pelas ruas caxienses e por telefone, Cruz demonstrava seu sentimento caxiense e visão cosmopolita, um cidadão do mundo que legitimava os valores que nos tornam humanos civilizados… e humanos — como a Arte, a Música, o Folclore, as tradições, a Cultura, o jeito sério, competente e honesto de se fazer Política, Cidadania e Administração Pública.
Um ser humano imenso, acerca do qual Caxias e o Maranhão e o Brasil devem-lhe recuperar e repassar seu trabalho, sua história, seu legado.
Antônio Cruz deixou esposa, a assistente social e servidora pública Maria José Vieira de Farias e um casal de filhos adultos, Anna Morélia e Cayo Cézar. Cayo, igualmente ligado à Cultura, é quem passou a comandar o CEFOL e segue, continua e amplia os passos do pai, inclusive nos passos das danças e nos passes — mágicos — dos cantos folclóricos e tradicionais.
Depois de tanto trabalhar por causas para os quais os ditos “poderosos” tanto fecham os olhos, Antônio Nascimento Cruz, finalmente, descansou.
Que a Eternidade o acolha em Paz.
EDMILSON SANCHES
Administração – Comunicação – Desenvolvimento – História – Literatura
PALESTRAS, CURSOS, CONSULTORIAS: [email protected]
Fotos: Antônio Cruz em apresentação e em frente à sede do Centro de Folclore e Arte Popular de Caxias, o CEFOL.