Sei que posso morrer
Afinal, não serei o último
Nem serei eu o primeiro
Só chegará minha vez.
Muitos se foram e irão
A viagem só continuará
Tem-se de pedir perdão
Antes desse trem partir
Quem sabe nos veremos
No outro lado da vida
Onde a morte não exista
Onde o viver persista
Foram-se João, Maria
Muitos que nos amaram
E tantos que queríamos
Restam os que se vão
Portanto, posso morrer:
Tive filhos, casei e amei
Árvores de frutos plantei
Livros também publiquei
Fui amado, conheci, vivi
Muitos não me viram
Mas, entendi e sentir
A dor e a alegria eu vi
Na minha geografia
As curvas e paralelos
Nas falésias, nos mares
Criei minhas fantasias
Corri por campos limpos
Andei por ruas sujas
Viajei em asas do tempo
Curti tantos momentos
Pernoitei em beco ermo
E descansei sob estrelas
Em pousada verdejante
Sobre o colo de amante
Provei do pão que o
“cão amassou”, ceiei caviar.
Desbravei a solidão
Nas estradas da ilusão
Me limpei em mares
Me lavei em rios, fontes
Meditei nos montes
Me debrucei nos altares
Em veredas tortuosas
andei com minha fé
Segui percursos a sós
Orei clamando a sorte
Mas, Deus estava ali
Nunca me deixou só
Jamais me abandonou
E sarou a minha dor
Derramo em seus pés
O perfume da gratidão
A essência do perdão i
O amor e meu querer
E se não morrer hoje
É pela sua bondade
Sua misericórdia
Mas, já posso morrer!
Alberto Pessoa (poeta maranhense)