7 de Abril, Dia do Jornalista
“Só uma pessoa poderá tentar explicar o mundo para outra.”
DE GENTE PARA GENTE – Por mais que se automatize / digitalize, o jornalismo dependerá sempre do ser humano — porque informação é consumida por seres humanos. Não se escreve para pedras nem para árvores, ou para baratas. Só uma pessoa poderá tentar explicar o mundo para outra. Quando essa pessoa é jornalista, e não apenas fazedora de jornal, sequer a interdição de uma parte do corpo (as mãos, no exemplo clássico do jornalista Antônio Maria) a impossibilitará de exercer seu direito e dever profissional.
FORMA X CONTEÚDO – A lógica simples, para muitos, não é percebida: no jornalismo, por mais que a embalagem seja interessante, o objeto de consumo é a informação. Assim como um medicamento: por mais que sua caixa, o invólucro ou recipiente sejam atraentes e adequados, o indispensável mesmo será sempre o conteúdo (pílula, pasta, líquido etc.). Em essência, a expressão “nova embalagem”, em uma caixa de medicamento, serve apenas para chamar a atenção e não, necessariamente, para enriquecer o produto, o “princípio ativo”.
ATIVO: PRINCÍPIO E PRINCIPAL – Assim também no jornalismo, onde a informação clara, concisa e correta torna-se “remédio” contra os males da ignorância, anticorpo contra a peste política, vacina contra simulacros empresariais, inibidor de males econômicos, estimulador do apetite cultural, revigorante das estruturas sociais, eliminador do câncer da ignorância e da apatia anticidadã.
Informar bem para uma cidade e um mundo melhor. Os “princípios ativos” são o principal ativo do jornalismo.
O MAL – Mas, vestido com poder ou dinheiro, o mal entra em campo com seu jogo de sedução e estimula a “voluntas sceleris” (vontade de delinquir) que convive em todo animal racional. Resultado: a notícia enviesada, a informação comprada, o texto tendencioso, os elogios negociados, notas e registros fictícios, supérfluos ou inconsistentes, mídia fazendo média, metamídia, “media event”, a homocromia, o mimetismo de sobrevivência — e, mais dias menos dias, o principal pressuposto e única base do jornalismo (a credibilidade) vai-se desmilinguindo, como a “ponte velha quinda não caiu”, cantada por Ednardo em sua canção “Longarinas”.
CRISE — É assim no jornal, enquanto produto: não é só (ou é muito menos) uma crise econômica que justifica a ausência de anunciantes/assinantes; é a crise de credibilidade. Os jornais, que tanto pregam correção e transparência no setor público, muitas das vezes sonegam-nas.
EQUILÍBRIO – Outro aspecto: em época de campanha eleitoral, o jornal não deveria escamotear a informação de que apoia um ou outro político, quando de disputas eleitorais. O desastroso é quando o leitor percebe ou conclui isso por sua própria conta. Se o jornal não é, verdadeiramente, apartidário, a (com)postura mais indicada é a de, no início legal das campanhas, escrever um editorial declarando que fez opção por essas e essas ideias, causas e programas e pelo(s) candidato(s) “A” e “B”, que, naquele momento político-eleitoral, representa(m) aquele conjunto político-ideológico-programático.
Além disso, o jornal deve assegurar — é lógico, é ético, é profissional — que vai manter o equilíbrio noticioso, trazendo informações dos vários candidatos, inclusive opositores àquelas ideias, causas, programas e candidatos. Por fim, solicita aos leitores permanente atitude de vigilância para coibir e reparar eventuais “excessos de preferência” que o jornal venha a cometer. Nada de cinismo e hipocrisia: Isto não apenas é bonito e ideal; é o certo; amplia e reforça a credibilidade e traz lucro e sadia prosperidade para o jornal. Como já disseram: A maior malandragem, hoje, é ser honesto.
CREDIBILIDADE E VERDADE – Se tivesse de afirmar, diria que credibilidade é mais importante que verdade. Reforça-se McLuhan: o meio é a mensagem. Não precisa muito esforço para confirmar; bastam exemplificações: ponha-se a mentira na boca daquele (jornal, jornalista) e ela prosperará; ponha-se a verdade na boca daqueloutro (jornal ou jornalista) sem crédito e a verdade não caminhará… como verdade.
Vale lembrar a historieta antiga do pastor e o lobo: de tanto mentir que o lobo estava atacando as ovelhas, apenas para rir-se do alvoroço provocado nos amigos, o pastor não teve ouvidos seus gritos nem atendidos seus pedidos de “socorro!” quando seu próprio rebanho começou a ser dizimado pela matilha.
O jornalista não pode ser o pastor, muito menos os amigos, o lobo, as ovelhas. “Vexata quaestio”: O que é o jornalista, então?
Cartas para a redação.
EDMILSON SANCHES
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