*Alberto Pessoa
“Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.”
(Gonçalves Dias)
Com suas águas barrentas e seu leito insistente, o Rio Itapecuru faz parte dos nossos sonhos. Não somente por ser um Rio que nasce, cresce, abastece e sacia a nossa sede de viver, mas também por ser um genuino maranhense, que se mistura na manutenção da vida na Terra penetrando mansamente no Atlântico Sul.
Apesar das agressões e do desprezo de tantos, o Itapecuru ainda mata a fome de populações ribeirinhas que usam suas margens para o cultivo sustentável em hortaliças e de leguminosas, entre outras, além do pescado, hoje mais escasso.
O Itapecuru começa na Serra do município de Mirador e desemboca no Oceano Atlântico na Baía do Arraial em São Luís. É o Rio mais maranhense de todos os rios. Abastece 55 municípios de todo o estado, com água potável. O Itapecuru supre com o líquido precioso 60% da população maranhense, incluindo São Luís e as cidades ribeirinhas. O rio também é importante para o transporte, a irrigação, as atividades recreativas, a pesca, a agricultura de vazante e a piscicultura.
De acordo historiadores o topônimo Itapecuru tem vários significados. Para alguns, quer dizer púcaro de pedra; para outros, pedra comprida ou larga em que se armam ciladas e, ainda, caminho de muita pedra.
Segundo o caxiense César Marques, são desencontradas as opiniões sobre a etmologia desta palavra. Em uma das notas a “História da Revolução do Maranhão”, o Dr. Domingos José Gonçalves de Magalhães, impressa na oficina tipográfica do senhor B. Matos, se diz que esta palavra é escrita por uns Itapycuru, por outros Itapecuru e Itapicuru. Mas o editor, em seu entender; considera errados todos estes modos de escrever, sendo Itapecuru o etimológico, único e exato.
Tem suas nascente em um buritizal nas fraldas da serra do mesmo nome. Entre os seus principais afluentes destacam-se os rios Alpercatas (o principal), Corrente, Riachão, Itapecuruzinho, Limpeza, Ponte, Ouro, Prata, Codozinho. Peritoró e Pirapemas Das cachoeiras existentes citamos: Sanhanró (arrecife de pedras), Criminosa, Cajazeiros, Terra Dura e Canal Torto.
Durante o século XIX e início do século XX, era o rio Itapecuru o mais rápido meio de comunicação de Caxias com a capital do Estado. Seu transporte era feito através de companhias fluviais, onde destacamos a Empresa de Navegações a vapor dos Rios do Maranhão, o Loide Maranhense e a Empresa de Navegação São Luís. Somente com a inauguração da estrada de ferro, em 1920 (governo Epitácio Pessoa), trecho São Luís-Caxias, deixou o rio Itapecuru o seu importante papel, com a diminuição do tráfego fluvial. Mesmo assim, continuou a rota Caxias-Colinas hoje extinta.
Atualmente, o rio Itapecuru vem sofrendo várias agressões ecológicas pelo próprio homem, tornando-se poluído em algumas áreas, inclusive quando atravessa nossa cidade.
“Eu, que já molhei as mãos no Tejo, passeei de Bateau Mouche no Sena: atravessei pontes sobre o Tamisa; naveguei de Colônia até próximo a Frankfurt; no Reno; viajei de Duls a Viena no Danúbio (não é azul); odiei o Pó; debrucei-me sobre o Tibre; molhei os pés e me benzi no Jordão; fiz passeio no Nilo; margeei o São Lourenço de Otassa a Quebec; cruzei várias vezes o Potomac, em Washington D.C.; fui de Belém a Manaus navegando sobre o Amazonas; já vi várias vezes o São Francisco atravessei a nado o Parnaíba, quando estudei no Liceu Piauiense. Assim, conheci grandes rios e outros de menor porte. Porém, o mais importante para mim é o ltapecuru, pois como diz o poeta quando se refere ao Rio de sua aldeia, o Itapecuru é o rio da minha infância, nele tive as primeiras audácias de natação depois de uma aprendizagem no riacho Ponte”, destacava em seus escritos o saudoso escritor maranhense, caxiense, meu amigo Jacques Inandy Medeiros.
O Itapecuru é o rio que banha a cidade em que nasci, Caxias.
A bacia do rio Itapecuru se estende ao leste do Maranhão, onde constitui-se num divisor entre as bacias do Parnaíba, a leste, e a do Mearim, a oeste. Seus principais afluentes são os rios Alpercatas, Corrente, Pucumã, Santo Amaro, Itapecuruzinho, Peritoró, Tapuia, Pirapemas, Gameleira, Codó, Timbiras e Coroatá.
Destacam-se às suas margens cidades importantes como Mirador: Colinas, Caxias. Aldeias Altas, Codó, Timbiras, Coroatá. Pirapemas. Cantanhede, Itaapecum-Mirin, Santa Rita e Rosário.
Nas margens desse tio, nasceram cidadãos notáveis, por sua posição nas artes, letras, política e economia, talentos com importantes serviços prestados às suas cidades, seu estado e seu pais. Entre eles destacamos: Gonçalves Dias. Coelho Neto, Teixeira Mendes, João Lisboa, Gomes de Sousa e tantos outros.
Nascidos às margens do ltapecuru e que já governaram o Maranhão, citamos: Benedito Leite, Godofredo Viana, Paulo Ramos, Eleazar Campos, Eugenio Barros, Alderico Machado, João Castelo, Ivair Saldanha, Edison Lobão e José Ribamar Fiquene.
Apesar de toda sua importância e belezas naturais, pode-se observar nas margens do Rio Itapecuru, uma paisagem morta, onde o próprio homem vem desmatando sem limites esse que é um dos rios mais importante do Brasil. Em vários pontos da sua extensão é possível ver resíduos sólidos compondo o cenário do local, como garrafas pet, lixo e o despejo de poluentes.
A degradação do Itapecuru tem chamado a atenção de ambientalistas e engenheiros florestais, que vem realizando um diagnóstico da situação do rio. Para estes, a poluição é causada pela própria população que dificulta a preservação do local.
Apesar dos vários movimentos de ecologistas em defesa do nosso rio, na tentativa de impedir que resíduos de indústrias, matadouros e rede de esgotos sejam lançados nele e nos afluentes, bem como interferir no desmatamento de suas margens, ainda carecemos da conscientização de preservarmos o que é nosso.
As consequências destas agressões vêm em forma de prejuízos por meio de enchentes e contaminação das águas.
“É preciso todo um trabalho de educação ambiental e revitalização desses cursos de água. Caxias por exemplo, ao invés de crescer, inchou. A expansão urbana desordenada e falta de saneamento básico, tudo isso contribui para a degradação desses cursos d’água do rio”, declarou o secretário de Meio Ambiente de Caxias Pedro Marinho.
Os governantes precisam estar sempre atentos para a sua conservação, impedindo a poluição e o seu assoreamento. Vale ressaltar que o Itapecuru abastece 75% da população de São Luís.
*Alberto Pessoa é jornalista (Sindicato dos Jornalistas de Brasília e Fenaj). Licenciado em Geografia pela UEMA e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias.
(Fotos de Caxias: Alberto Pessoa.
Foto do Rio Itapecuru: Internet)